sábado, 15 de abril de 2017

As eleições presidenciais em França


Nos dias mais recentes adensou-se o dramatismo em torno das eleições presidenciais em França. Já pairava o espectro, ainda que longínquo, de uma vitória da candidata da extrema-direita. A direita clássica mantinha-se sob a espada de Damócles de um desastre eleitoral que a sombra de corrupção que paira sobre o seu candidato tornava provável. Um jovem ex-banqueiro, cooptado por François Hollande para o seu séquito presidencial e depois para o seu governo como vassalo de Valls, talentoso videirinho do nem esquerda nem direita que apunhalou suavemente os seus dois citados benfeitores, parecia correr para uma entronização certa na esteira dos diversos desmoronamentos de certezas que têm ocorrido nesta campanha.O candidato que venceu com nitidez as primárias do Partido Socialista, Benoit Hamon, gorada a tentativa de ser o único candidato relevante à esquerda, passava por uma via sacra de traições de alguns dos seus próprios camaradas. Tendo fugido ao abraço de urso de Hamon,  Melenchon conseguiu reacender o fogo dos insubmissos. Passou ele a ser o urso que abraçava pouco a pouco Hamon, fazendo-o definhar nas sondagens à medida que ele próprio ganhava novas asas.
Eis senão quando nos dias mais recentes, uma combinação de subidas e descidas nas intenções de voto espelhadas nas sondagens colocou praticamente a par quatro candidatos: Marine Le Pen, F.Fillon, E. Macron e J.-L.Melenchon. Qualquer deles, a fazer fé nas sondagens, poderá estar na segunda volta a disputar a vitória a um dos outros.
Este último é um recém-chegado ao pelotão da frente, onde até agora nunca estivera. É o candidato dos insubmissos, líder do Parti de Gauche, aliado do PCF ( que o vai suportando por necessidade), ex-militante e ex-ministro socialista, deputado europeu. Tem a vantagem de estar com uma dinâmica de subida e pode beneficiar de pequenos contributos eleitorais dos candidato da extrema-esquerda que são vários; pode esvaziar ainda mais a candidatura do candidato socialista. Paira , no entanto, sobre ele a recordação do que se passou com ele  em 2012. na última semana da campanha: os 17 % das sondagens passaram a 11% na hora de votar; arrisca-se ainda a que regressem ao candidato socialista os votantes socialistas que privilegiem a solidariedade para com um partido em dificuldades. E não é seguro que o simples facto de ele poder ir à segunda volta não venha a ser um fator que favoreça relativamente qualquer dos  outros candidatos na competição entre si..
Entretanto, parece claro que para além das presidenciais, o que está no horizonte é um forte abalo no sistema político francês, sem haver uma noção clara do que advirá daí. De momento, o PS parece ser quem corre riscos mais profundos e mais dramáticos. Mas se Fillon for derrotado "Les Republicains" ficarão provavelmente em muito mau estado. Se Macron ganhar não é nítido como poderá governar se a paisagem política depois das legislativas de junho não for totalmente  mudada a seu favor. Se a Srª Le Pen vencer ( o que parece improvável) a Vª República francesa provavelmente não sobreviverá.

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